Fui desafiado a falar de Maternidade Independente.
Uma realidade com que tomei conhecimento há relativamente pouco tempo, através da Inês.
Como pode um pai falar de maternidade independente?
As realidades que conheço são as de viver a paternidade em família com uma mulher e, mais tarde, viver a paternidade em contexto de separação, com guarda partilhada.
Em ambos os casos, estamos totalmente presentes nas vidas das nossas filhas.
Marcas importantes da paternidade que conheço são a partilha e, por outro lado, a gestão do tempo pessoal.
A partilha do projeto.
A idealização conjunta.
A partilha de responsabilidades.
A divisão quotidiana de tempo e de tarefas.
A possibilidade de, ainda que dentro de uma família, cada criança poder criar diferente relação, diferentes cumplicidades ou afinidades, com cada um dos pais.
A possibilidade de ter tempo para mim.
Para fazer o que quero ou não fazer nada.
Pois sei que alguém, com a mesma responsabilidade e legitimidade que eu, está lá para assegurar.
Mesmo na fase da separação.
Estas duas principais possibilidades — partilha e tempo próprio — não existem na vida de uma MI.
Estão sempre ao serviço.
Sempre na linha da frente.
E, ainda que, momentaneamente ou por um período, alguém possa representar alívio — avós, baby sitter, companheiro, amigos, etc. — não existe ou existirá alguém com o mesmo papel na vida desta criança.
Uma íntima solidão, imagino.
Como todos os pais, eu vivi e vivo.
Lembro e sinto.
As frustrações.
As ansiedades.
Os medos.
O cansaço acumulado.
E sei o quanto pesam no dia-a-dia.
Mas sei que em cada momento posso partilhar tudo isto com alguém.
Não consigo imaginar o que será viver tudo isto sem dividir.
Sem descanso.
Sem recuo algum.
E isto é a vida normal de uma mãe independente.
Imagino e intuo dificuldades quotidianas.
Sei que me assustaria com coisas que cada uma das MI’s aprendeu a resolver na hora.
Sem drama.
Fazem da relação íntima, umbilical, fusional com os seus filhos a sua força diária.
E nela baseiam também a sua força para se projetarem, a elas e aos filhos, para o futuro.
Adivinho, sei, que temem, crianças e mães, que alguma vez a mãe falhe.
Um peso permanente.
Uma incerteza.
Que suportam e tornam leve, apenas e só, com a certeza do amor que os une.
Ainda o enorme desafio de generosidade maternal.
Permitir que a proteção permanente, a relação emocional unívoca, possa dar espaço a um ser que seja autónomo, independente, realizado e feliz.
As razões para a decisão de avançar para uma solução de MI serão muitas e variadas.
Cada mulher terá as suas.
As consequências na vida destas mulheres são as mesmas para todas elas.
Uma entrega total e permanente.
E uma obrigação de constância na ação que nem sempre cada um de nós tem.
As minhas palavras podem dar a entender que as MI’s vivem vidas duras.
Ansiosas.
Vergadas sob o peso das gigantescas responsabilidades.
Mas, ao contrário, nos exemplos que vou conhecendo, vejo alegria.
Boa energia.
Sorrisos.
Pragmatismo.
Muita ternura.
E amor.
Assim, com quase desconhecimento assumido, com admiração e com um enorme respeito por estas pessoas, presto homenagem às mulheres que sonharam e decidiram.
Assumindo o gigante compromisso de serem sempre.
Para sempre.
Tudo na vida de uma criança.
Obrigado, Inês.
Pelo sorriso.
Pela partilha.
Pela dádiva.
Que através deste site ofereces a outras pessoas.
E pelo exemplo que, não querendo ser, és.
