Não é que seja fácil ser mãe independente noutros países.
A maternidade nunca é simples, nem linear, nem isenta de dúvidas. Mas em muitos contextos fora de Portugal, falar sobre maternidade independente parece ser mais natural, mais visível e, sobretudo, menos solitário.
A diferença não está apenas nas leis, nos sistemas de saúde ou nos apoios sociais. Está, muitas vezes, na forma como o tema é nomeado, discutido e integrado no discurso público.
A importância da linguagem e da visibilidade
Em vários países, existem termos claros e amplamente utilizados para falar deste modelo de família: single mothers by choice, solo mothers, single parent families. A existência de uma linguagem comum cria reconhecimento. Dá nome à experiência. Retira-lhe o peso do segredo ou da exceção.
Há livros, podcasts, filmes, séries e artigos que abordam a maternidade independente de forma aberta, plural e não defensiva. Não como um desvio à norma, mas como uma das muitas formas possíveis de construir família. Essa visibilidade não elimina as dificuldades, mas normaliza o percurso.
Informação acessível muda decisões
Outro ponto fundamental é o acesso à informação. Em muitos países, é mais fácil encontrar conteúdos claros sobre reprodução assistida, enquadramento legal, direitos parentais e experiências reais de outras mulheres. Existem associações, plataformas informativas e comunidades ativas que partilham conhecimento acumulado.
Projetos como a Single Mothers by Choice (EUA), a Fertility Network UK existem há anos e oferecem informação estruturada, apoio comunitário e histórias reais. Em Espanha, a associação Madres Solteras por Elección tem tido um papel importante na normalização do tema e na criação de redes de apoio entre mulheres que fazem esta escolha.
Quando a informação existe e circula, a decisão deixa de ser vivida em isolamento. Passa a ser uma escolha informada, acompanhada, refletida — mesmo quando continua a ser exigente.
O peso do silêncio em Portugal
Em Portugal, a maternidade independente ainda é, muitas vezes, vivida em silêncio. Há menos referências públicas, menos histórias contadas e menos espaço para uma conversa tranquila e descomplexada. Isso não significa que não existam mães independentes — elas existem, sempre existiram — mas a sua visibilidade continua reduzida.
O silêncio não impede as decisões, mas torna-as mais solitárias. Faz com que muitas mulheres achem que estão a inventar um caminho que mais ninguém percorreu antes. E isso pesa.
O que podemos aprender com outros contextos
Olhar para outros países não é idealizar nem importar modelos. É perceber que falar ajuda. Que nomear cria pertença. Que partilhar experiências constrói referências para quem vem a seguir.
Também projetos internacionais como o We Are Donor Conceived mostram a importância de integrar, desde cedo, conversas honestas sobre origem, identidade e transparência — temas que atravessam a maternidade independente e a parentalidade contemporânea como um todo.
Não se trata de tornar o caminho mais fácil, mas de o tornar mais habitável. Mais humano. Menos carregado de culpa ou explicações desnecessárias.
Falar é um ato de cuidado
A maternidade independente não se define apenas pela ausência de um parceiro. Define-se pela presença de uma decisão consciente, de um desejo assumido e de uma enorme responsabilidade vivida em primeira pessoa.
Falar sobre isso — em Portugal e fora dele — é um ato de cuidado. Com quem já está neste caminho e com quem ainda o está a ponderar. Porque quando a conversa existe, ninguém sente que está sozinha a inventar o mapa.
