A história que nos ensinaram sobre família e sucesso feminino
Por muito tempo — e põe tempo nisso — tentaram convencer-nos de que o verdadeiro sucesso de uma mulher vinha num pacote fechado: casamento, filhos, casa cheia, vida a dois, jantares de domingo e uma aliança no dedo. A tal família perfeita dos comerciais de televisão.
Durante anos, acreditámos nisso. Afinal, era tudo o que víamos, líamos e ouvíamos.
Quando o plano de vida não acontece como imaginado
Durante muito tempo, também eu fiz planos. Planeei casar aos 27 anos, ter o primeiro filho aos 30 e o segundo aos 33. Planeei esse capítulo da minha vida, sim.
No entanto, nada do que imaginei aconteceu.
Seria culpa minha? Do destino? Não. Nunca.
Jamais me torturaria ou penalizaria por algo que simplesmente não ocorreu — e que não estava sob o meu controlo. Sempre encarei a vida como um copo meio cheio. E foi assim que decidi continuar a olhar para ela.
O impacto do tempo e do relógio biológico nas mulheres
A verdade é que a vida nem sempre respeita roteiros. E comigo não foi diferente. Quis encontrar um parceiro. Tentei. Frustrei-me. Tentei outra vez. Não resultou.
Enquanto isso, o tempo passava. E não me esperou.
Por volta dos 38 anos, a ficha caiu. Já não tinha como me dar ao luxo de esperar pelo “cara certo”. O relógio biológico começou a lembrar-me, insistentemente, de que era preciso decidir: ir para a direita, para a esquerda ou ficar parada.
E quem me conhece sabe: ficar parada nunca foi — e nunca será — uma opção.
A decisão de escolher a maternidade independente
A maternidade, que durante anos deixei para depois, começou a gritar dentro de mim. A sirene soou alto.
Mas já não era tempo de procurar um príncipe. Era tempo de escolher a mim. A Bettina.
Foi então que surgiram os pensamentos que talvez também já te tenham atravessado:
Será que fiz tudo errado? Perdi o timing? Foquei-me tanto no trabalho que descuidei a vida pessoal? Estou sozinha porque há algo errado comigo?
E eu digo-te com toda a certeza: não fizeste nada de errado.
O que ninguém nos explica sobre fertilidade feminina
Fomos ensinadas a estudar, trabalhar, conquistar estabilidade. No entanto, ninguém nos avisou que os óvulos têm prazo de validade.
Que a fertilidade não espera que a gente “tenha a certeza”.
Que congelar óvulos era uma possibilidade real.
Eu não sabia nada disso.
Enquanto isso, via amigas a casar e a ter filhos. Eu não. Esse contraste cria um peso invisível — um peso que dói especialmente nas mulheres que continuam solteiras depois dos 35.
Julgamentos e estigmas associados à maternidade independente
Ouvi de tudo: que era exigente demais, que “casei” com o trabalho, que deixei a vida amorosa de lado para ganhar dinheiro. Tentaram encaixar-me num molde que nunca foi meu.
E mesmo hoje, com tudo o que conquistei, ainda há quem diga que fiz isso por “desespero”.
(P.S.: vai sempre haver alguém a achar alguma coisa.)
Escutar o desejo de ser mãe como escolha consciente
A verdade é simples: fiz tudo por desejo. Por uma voz interna que falava comigo.
E desejo não se empacota nem se deita fora. Escuta-se. E presta-se atenção.
Nunca me senti incompleta. Muito menos incompetente. A terapia ajudou-me muito a compreender isso.
Fiz-me mãe. Sozinha, sim. Mas com amor, planeamento, coragem e uma rede de apoio.
Criar um modelo próprio de família monoparental
Não ter casado não diminuiu em nada a minha capacidade, a minha competência, o meu valor ou o meu direito de ser mãe.
Foi justamente na ausência do modelo ideal que criei o meu. Uma história só minha.
E aqui fica uma mensagem essencial: solo, sim — mas nunca solitária.
A falta de informação sobre maternidade independente no passado
Em 2011, quando tomei a decisão pela maternidade independente, não havia praticamente nenhuma referência online. Pesquisava no Google termos como “produção independente” e “mães solteiras”.
Encontrava poucas matérias, alguns blogs, quase nenhum vídeo e zero livros em português.
Foi apenas ao procurar conteúdos fora do Brasil, especialmente nos Estados Unidos, que encontrei referências. A literatura nacional era praticamente inexistente.
Foi através da Mikki Morrissette que consegui visualizar o meu futuro. Tudo mudou ali.
O caminho até à gravidez através da reprodução assistida
Foram dois anos de amadurecimento, tratamentos e entrega.
E em 2013, depois de três tentativas de FIV, nasceu o grande amor da minha vida.
Com ela, nasceu também uma nova versão de mim: mais inteira, mais forte, mais consciente.
A maternidade não realizou apenas um sonho — transformou-me profundamente. Como mulher. Como ser humano.
Maternidade independente: do plano B ao plano A
Nunca sonhei ser mãe independente. A verdade? Este foi o meu plano B.
Mas quando o desejo de ser mãe continuava a pulsar, mesmo sem um parceiro, soube que era hora de escolher.
Foi a decisão mais difícil da minha vida. E, ao mesmo tempo, aquela de que mais me orgulho.
A minha filha, Catharina, faz 12 anos em setembro de 2025. E quando olho para a nossa história, penso sempre no mesmo: tudo valeu — e continua a valer — cada segundo.
A realidade da maternidade: amor, desafios e perrengues
Não é fácil. E não vou romantizar — porque isso seria injusto.
Há noites mal dormidas, medos, silêncios e perrengues.
Ainda assim, o amor que nasce ali, no meio do caos, é tão profundo que transforma tudo. Muda a vida. Muda a gente.
Transformar a experiência de maternidade independente em livros
A minha vida mudou tanto que senti vontade de transformar tudo isso em palavra viva.
Escrevi um livro para ser aquilo que eu não encontrei quando comecei: uma guia. Uma referência. Uma voz que dissesse: “Você não está sozinha. Existe caminho.”
Anos depois, escrevi um segundo livro — desta vez infantil — para responder à pergunta da minha filha: “Mamãe, cadê o meu papai?”
Foi o primeiro livro no Brasil a falar de maternidade independente e reprodução assistida para crianças, com leveza, respeito e amor.
Uma história real de maternidade independente
A minha jornada nunca foi sobre ter todas as respostas.
Foi sobre escutar o desejo que pulsava dentro de mim — e ter coragem de segui-lo.
O meu conselho?
Escuta o teu coração. Ele pulsa.
Bettina Boklis
